Hoje resolvi abrir as janelas da memória, sem cortinas e persianas. Relembrar quantas coisas já fiz: enfiei o dedo na cloaca da galinha para ver se o ovo estava pronto para sair, matei a curiosidade. Roubei frutas do quintal do vizinho, só pela vontade de correr risco. Soltei pipa, aprendi que podemos alçar voos mais altos. Acendi fogos de artifícios na festa de São João, vi seu brilho e percebi brilho maior - o interior. Tomei banho de chuva, acreditando que o fenômeno da chuva era devido ao fato de São Pedro estar de chuveiro ligado, momentos criativos. Descobri a beleza do arco-íris e a bela íris da namorada, situação de encantamento. Já chorei de alegria e ri da tristeza, conhecimento das antíteses da vida. Escalei a parede de uma casa de dois andares que nem homem-aranha, só para roubar um inocente beijo da namoradinha, descobertas da sexualidade. Disputei cuspe e xixi à distância com a gurizada, sentimento de pertença. Desfilei como guardião da bandeira nacional junto com meu irmão gêmeo na parada de sete de setembro, noções de patriotismo (hoje a "parada" é outra). Brinquei de escoteiro, simulando acampamento com direito a armar a barraca no quintal da vovó, desenvolvimento da cooperação (atualmente "armar a barraca" tem outras conotações). Aprendi na infância a ficar de mal e de bem no mesmo instante, sem rancores. Despetalei margaridas, brincando de bem-me-quer e mal-me-quer querendo que acabasse no bem. Participei de brincadeiras de roda, sem nenhuma discriminação. Mergulhei a mais de 10 metros de profundidade, agora procuro mergulhar no inconsciente.
Sei conscientemente agora, que fazia e faço a limpeza do meu lixo mental, rebobinando a fita da minha existência, quando uma "janela killer" (janelas traumáticas: medo, ansiedade, traumas, etc) se abre, abro paralelamente minhas "janelas light" (janelas não traumáticas). Tenho possibilidade de viver uma vida mais saudável mentalmente (momento de reflexão após ter lido o livro "O Código da Inteligência" de Augusto Cury).
Autor: Sylvio Fernando Mattos Xavier da Silva